quinta-feira, 31 de julho de 2008

Nizan Guanaes e seu Manifesto Bossa Nova - um vídeo e muitas reflexões


Assistindo a esse video do Nizan Guanaes no IV Congresso Brasileiro de Publicidade, que aconteceu em julho desse ano, não tem como evitar pensar no mercado cearense como um todo e perguntar o que estamos realmente fazendo para mudar esse marasmo que está aí. Será que estamos investindo nossos nossos talentos como eles mereciam? Será que pagamos salários justos? Será que formamos pessoas realmente capacitadas nas nossas faculdades? Será que um dia a gente deixará de pensar somente em bonificação sobre o volume e começar a criar modelos voltados para a geração de idéias? Eu queria saber responder a essas perguntas. Mas deixo isso pro Nizan responder. Eu só escuto.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Silvio,
já tivemos, outras vezes, conversas sobre esse assunto tão bem colocado pela comissão de trabalho que teve o Nizan como relator. Aqui, no meu ponto de vista, nasce uma encruzilhada: CEARÁ X NORDESTE X BRASIL X MUNDO. E, ao que parece, a nós cabe o papel de despacho (ou ebó, como preferem os baianos). Acho muito bonito o discurso construído pelas grandes corporações de comunicação contra as formas de remuneração na propaganda. Logo elas, coitadas, que brigam pela manutenção das propagandas de bebida na TV (fonte principal de suas verbas), pelo incentivo desenfreado ao consumo patrocinado pelos bancos (também clientes deles) e de um sem número de ilícitas licitações que (mesmo sem provas) sabemos que todos estão envolvidos, levantam a voz para defender o mercadinho contra a opressão dos clientes. Como devem sofrer essas empresas na hora de pagar as contas. Acho bonito - e até pertinente - o discurso com tom de indignação proferido pelo Nizan. O mesmo sujeito que explora seus funcionários, fala em justiça em remuneração. (o que é justo para um sujeito que trabalha, com freqüência, 72 horas sem ir para casa?). Salário, preço e lucro. É velho, mas ainda soa atual.
A criatividade nacional, tão apregoada pelo documento, deveria incluir o esforço que nós, os incompetentes empresários cearenses, realizamos para manter nossas agências funcionando. Clientes despreparados, baixos investimentos gerando produções ruins, baixos salários gerando pouco compromisso por parte dos funcionários, ou seja um mercado pobre que, infelizmente, vive impregnado pelo discurso pomposo dele, e de muitos outros, que fazem parecer que a propaganda está restrita a peças premiáveis em Cannes. Conheço você. Melhor que ninguém, você sabe o dia-a-dia do mercado local. Como convencer um pequeno empresário, dono de um mercadinho de bairro, a investir em produção de foto, de VT, na qualidade de impressão, na tabela do sinapro e ainda ter um dinheiro para investir nos veículos? Bom, se ele não tem dinheiro para anunciar que se f*! Ah, talvez devêssemos atender apenas grandes clientes! Isso me lembra quando trabalhava em outra agência e nosso cliente nacional foi assediado pela própria DM9 sob o argumento de sua visão global e o excesso de qualidade. Inegáveis, é verdade. Davi contra Golias? É fácil ser grande, crescer nos braços da política e seduzir o resto do mundo. Obviamente, esses mesmo grandes grupos não se interessaram em apoiar e desenvolver mercados locais. São, na verdade, tubarões brancos que, quando precisam, saem para se alimentar sem pensar muito em quem vai ficar sem comer. A solidariedade dessas grandes agências de capital misto é comovente. Lembro-me da própria “DM9 é DBB” e seus acordos operacionais locais. Governo, é claro. Dinheiro, é claro. Acabou o governo... Cadê o acordo? Tchau pra vocês. Quem não tem competência não se estabelece. Acho tudo muito lindo. O próprio Nizan magrinho é lindo. Fala bonito e tudo o mais. Acontece que ele é baiano, e acontece que eu não sou. Liberdade poética num texto ruim. Falar da padronização dos currículos universitários? Lindo! O parâmetro, é claro, é São Paulo. Afinal, todo o Brasil vive a realidade mercadológica de São Paulo. Acho que ele está certo. Vamos formar nossos alunos para trabalhar em São Paulo. Gente trabalhando Ceará? Besteira, isso aqui vai acabar mesmo. Esse discurso de quem vai ser o parâmetro é velho e facista. Já pensou? A Universidade Federal do Acre formar publicitários para atuar em Nova Iorque? Ai, ai... Inocência ou canibalismo planejado? Conhecendo os caras lá de São Paulo... Deve ser inocência, né? Isso é estratégia de mercado para garantir sobrevivência em tempos de crise. Na hora que a globalização levou o Bradesco (essa história faz tanto tempo que parece mágoa de quem foi preterido) a buscar mais competência lá fora, o discurso muda: É preciso defender o produto nacional. As agências daqui (SP) podem fazer igual ou melhor. Aí, a choradeira deles vale. Mas não é um mundo globalizado? Os caras de lá não foram mais competentes? Entende o que quero dizer? A América para os americanos, do Norte. O Brasil para os brasileiros, de São Paulo. Quanto ao seu comentário final: “Mas deixo isso pro Nizan responder. Eu só escuto.” Tá na hora de abrir os ouvidos e não deixar a voz do poder dizer a última palavra. Fale, e se possível, grite. É só o discurso de um publicitário cansado, de quase 50 anos, que viu muita coisa nesse mundo da propaganda. Menos gente poderosa abrir mão de suas regalias para ajudar o mercado a crescer.

Carlos Bittencourt

SILVIO CÉSAR disse...

Bitten,
é claro que concordo com você em vários pontos da sua mensagem. Mas você há de convir que não dá pra assumir uma postura de “Deixa pra lá. Sempre foi assim”que impregna nosso Mercado. Acho que as diferenças são gritantes, as verbas mais ainda, mas isso não é desculpa pra deixar as coisas como estão, sendo nordestinos, senegaleses, cariocas, acreanos e o escambau.
As agências de sampa realmente são isso tudo que você disse. Fazem panelinha na hora das licitações, conchavos nas concorrências e ainda, ainda, choram para manter sua margem de lucro em mídia para manter suas mega-estruturas.
Nossos clientes querem pagar mal? Sim, eles querem. Nossos profissionais ganham mal? Sim. Mas nos temos que assumir uma postura de fazer o certo. Se não dá pra tirar foto para o anúncio, não pega do sxc, que é de graça e não pode usar para fins comerciais. Mas todo mundo usa. E é errado. E a bola de neve aumenta.
Eu convivi com o meio acadêmico e posso afirmar: tem muita gente ruim sendo formada. Pessoas que não estão nem aí para ler, ver filmes, buscar cultura. Tão cagando pra isso. Isso é culpa do mercado? Acho que não. Neguinho chega todo cheio de pompa mas não lê nada, não vê anuário, nem sites de propaganda, não consegue nem escrever uma frase ou um texto completo ou mesmo não tá nem aí pra produção, acompanhar foto, deixar a parada do jeito certo. Vai ganhar mais por isso? Não. Mas ser profissional é assim mesmo. Sério, cara, vi gente chegar no sexto semestre e não entendo como isso aconteceu. Nem uma frase o coitado sabe escrever! E é esse tipo de profissional que sai todos os anos das faculdades e vão comandar as agências do futuro. E isso só aqui no Ceará. Imagina o resto.
Você tem razão e eu fui infeliz na minha última colocação (e quem não é em um texto?). Temos que assumir uma postura crítica mesmo, questionar o que tá errado. Não se contentar com discursos prontos, feitos por quem está por cima da carne seca. Se o esquema é Davi contra Golias, que seja.

Anônimo disse...

Issaí!

Não concordo com algumas de suas colocações, então, vamos à tréplica. Minha crítica principal tem a ver com as megacorporações disfarçadas de agências nacionais. Nizan fala da importância de valorizar o capital (financeiro e intelectual) nacional mas a agência dele, e de quase todos, são multinacionais. Cita um ou outro exemplo de brasileiros que se deram bem e esquece de dizer os que passam fome por aí. Falam numa linguagem internacional. O que é a tal da criatividade brasileira? Poucas vezes você "posta" trabalhos nacionais no seu blog. Mas não somos nós os criativosdo mundo? Vamos acordar. Isso tudo tem a ver com domínio de mercado. É um complô do capital mundial, é uma maldita venda de tudo o que temos em nome de algo de fora. Os paulistas são os americanos do Brasil. Isso tudo é, na verdade, uma guerra do Iraque tupiniquim. Fazem discursos lindos, em nome da mudança do mercado, e não fazem nada pela mudança real. Se fecham, se defendem na maior cidade da américa latina e não olham para as outras. Vislumbram tão somente, o horizonte financeiro. Desprezam a realidade para apontar que o certo é o que fazem. E o que fazem? Reproduzem modelos de negócios baseados na exploração humana e na cópia de administrações estrangeiras. Valorizam as mulheres de plástico criadas no photoshop e desprezam a textura de nossas cores. A Gisele Bündchen é linda, a colega do lado tem a pele gordurosa e fede. Viva a África. Nunca o Haiti. A África é pop, o Haiti é pobre. Desculpe-me, não engulo o discurso do Nizan sabendo que, por trás, apresenta uma realidade corporate. Nossa realidade é o Falcão e o Gentil. Tendo que comprar equipamentos de 35 mil dólares com fotos de 300 contos. Chega de cultuar os Deuses de barro. A prefeita de Fortaleza, por exemplo, se elegeu com a realidade local. Agora, com muita grana, vai buscar o Duda Mendonça para fazer uma comunicação "sofisticada". Possivelmente vai perder. Mas vai deixar muito dinheiro nos cofres paulistas/baianos e, em última instância, nos cofres multinacionais. Ele chega aqui, ensina como é que se faz, enche o rabo de dinheiro e deixa o destroço. Sei não... Pode ser que esteja ranzinza. E estou mesmo. Mas, cá entre nós, vejo o capital estrangeiro se disfarçar em bom moço a muitos anos. O que esses caras fizeram pela gente? Dão umas medalhas no CCSP como consolo? Quantas vezes você vê um desses caras preocupados realmente com os rumos da educação de qualidade? É ótimo falar do Brasil sentado em um barzinho na Riviera francesa. Mas, como você sabe, nós temos que viver aqui. Comer pirão com baião de dois. Reclamar da remuneração, sofrer pela falta de investimentos e tudo mais. Temos que mudar o mercado, o movimento é válido. Mas deve ter a chancela verde e amarela. Pura, sem interesses escusos ocultos. É o que acho.

Carlos Bittencourt

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