segunda-feira, 25 de junho de 2007

Snack Culture

Artigo muito interessante sobre Snack Culture, copy-pasteado do site Meio e Mensagem:

"Sgt. Pepper’s e a Snack Culture
Regina Augusto

Eu sei que vai parecer heresia para alguns o que vou dizer, mas os Beatles não são a minha banda predileta. Nasci no ano em que o reconhecidamente maior grupo do mundo se separou, e por isso nunca vivi sob sua influência direta. Minha vida foi muito mais marcada por conjuntos como The Police e U2, esses sim os meus favoritos. No entanto, não há como negar que Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band é, de fato, o álbum mais importante da história da música pop. Ao completar 40 anos na sexta-feira passada, dia 1o, é inevitável pensar nas mudanças entre os dois mundos que separam essa obra-prima dos dias de hoje: o de 1967 e o de 2007.

O fato mais marcante dessa comparação talvez seja a ilação de que daqui a 40 anos, possivelmente, Sgt. Pepper’s ainda será o melhor álbum da música pop de todos os tempos. Não é pessimismo nem nostalgia. Vivemos em uma época na qual o volume de informações e de conteúdo, o acesso a ele e principalmente sua produção são absolutamente escancarados e democráticos, tornando relativas e pasteurizadas as mais diversas manifestações culturais. Não por acaso, a indústria do entretenimento é a que mais cresce no mundo.

Essa configuração dá uma nova dimensão ao próprio conceito de entretenimento. É a tal da Snack Culture, expressão cunhada com muita propriedade pela revista Wired na edição de março. Longas-metragens, programas de TV, músicas e games agora são consumidos e embalados como se fossem petiscos, de forma instantânea, dando uma nova face à cultura pop.

Esse fenômeno já havia sido sinalizado nos anos 80 pelo sociólogo francês Gilles Lipovetsky — autor de obras antológicas, como A Era do Vazio e O Império do Efêmero —, que é um dos principais teóricos ocidentais

"Vivemos em uma época na qual o volume de informações e de conteúdo, o acesso a ele e principalmente sua produção são absolutamente escancarados e democráticos, tornando relativas e pasteurizadas as mais diversas manifestações culturais. Não por acaso, a indústria do entretenimento é a que mais cresce no mundo"

a observar a fugacidade das manifestações culturais, sua relação com a sociedade de consumo e as diversas transformações que esse processo tem provocado.

Esse cenário possibilita, por exemplo, que o game Guitar Hero, uma espécie de karaokê de guitarristas, inspire a recente formação de uma banda com o mesmo nome, em São Francisco (EUA). Na melhor versão da realidade imitando o mundo virtual, o grupo de amigos, no lugar de guitarras e baixos “normais”, usa como instrumentos os controles do Guitar Hero. Um software desenvolvido pelo líder, Owen Grace, um típico “geek”, dá corpo às notas tocadas nos instrumentos. Felizmente, o vocalista e a bateria são “de verdade”.

Em 2004, a banda britânica de indie rock Arctic Monkeys revolucionou o mercado fonográfico mundial ao lançar-se por meio do compartilhamento de suas músicas na internet, arregimentando fãs de todo o mundo. Na época, a imprensa global dava a eles a conotação de serem um divisor de águas no cenário pop/rock por subverter o esquema das grandes gravadoras. Houve até quem os comparasse aos quatro rapazes de Liverpool. Apenas três anos depois, os AM foram atropelados pela realidade, com o surgimento de bandas parecidas que utilizam o mesmo expediente para se lançar, quase como num processo de mimetismo cultural, e já não chamam mais tanta atenção nem pelo ineditismo nem, principalmente, pela qualidade do som que produzem.

É por essas e outras que Sgt. Pepper’s continua a ser a grande obra-prima da música pop da história, e provavelmente manterá essa posição por muito tempo ainda."

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