
Mas o filme é acidamente crítico. Desce como aquela colherada de remédio amargo pela garganta e faz a gente pensar no nosso próprio sistema de saúde. Nesse comércio todo que se tornou cuidar de pessoas. Pagar para ter um plano de saúde onde nossos impostos já são suficientes para cobrir essas despesas.
Comprimido indigesto, as mazelas que os americanos são obrigados a passar por não terem dinheiro suficiente para pagar pelos tratamentos deixam qualquer um revoltado. A cena de uma velhinha deixada de taxi na porta de um hospital de caridade, com a corrida paga pelo plano de saúde que negou em assistí-la, é comovente.
Michael Moore definiu seu documentário como uma comédia sobre as quase 45 milhões de pessoas sem sistema de saúde no país mais rico do mundo.” Seria uma piada se não fosse verdade. Você ri do absurdo mas sente, ao mesmo tempo os sintomas de uma revolta que cresce dentro de você. Por quanto tempo vamos aguentar essa doença?
É claro que, conhecendo Michael Moore, você tem que tomar cuidado. Conhecido por manipular dados, imagens, o documentarista não deve ser visto sem uma dose de ceticismo.
Nos EUA saiu um documentário intitulado Fabricando Polêmica (Manufacturing Dissent).
Realizado por ex-admiradores do diretor, Rick Caine e Debbie Melnyk, que após uma pesquisa questionam diante das câmeras a franqueza dos métodos utilizados por Moore para armar suas denúncias, carregadas de exageros em alguns fatos e o uso de algumas gravações fora de contexto, ferindo o princípio básico dos documentários.
Tem isso sim no filme. Tem câmera que se aproxima das testemunhas quando elas começam a chorar, tem maniqueísmo, tem comédia, tem manipulação de imagens dentro de contextos estabelecidos. Mas tirando tudo isso, em essência, a mensagem é clara. O sistema de saúde americana está doente. E, como se fosse uma espécie de contágio, constatamos que o nosso sistema está muito, muito pior.
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